quarta-feira, 25 de maio de 2011

A Vida Por Outra Ótica

É curioso como temos um olhar diferente para as coisas da vida, dependendo das circunstâncias e momentos em que vivemos...
Ultimamente tenho entrado e saído de hospital, enfrentado verdadeiras maratonas físicas e emocionais em busca de respostas, soluções e paz... É certo que ninguém vai a um hospital a passeio ou para matar as suas horas, mas o que pude perceber é que são justamente lugares assim que nos dão condições de avaliar a vida de uma forma totalmente diferente daquela que habitualmente fazemos.
Encontramos com muitos rostos (não tão diferentes dos nossos) e, ao olhar para cada um deles, imaginamos as suas histórias, as suas aflições e angústias... Ansiosos, medrosos, cansados, esperançosos ou, o contrário, sem qualquer esperança; chegam e partem e não sabemos se encontraram as suas respostas ou tiveram a chance de olhar para a vida de um modo diferente!
Dias desses, encontrei com uma moça que tinha acabado de saber pelos médicos que a sua vida estava chegando ao fim. A cena parecia com as que vemos em filmes: muitas lágrimas, desespero, medo, raiva... os “por que eu?” ou “e agora, o que faço?”. Não perguntei quanto tempo de vida ainda lhe resta, afinal, o que isso importa agora? Todos têm o seu prazo de validade... Mas fiquei pensando na nossa irresponsabilidade com a vida e com o tempo que temos... Por que as fichas caem apenas nessas horas? É preciso confrontar a vida com a morte para poder redescobri-la tão preciosa?
Talvez nem precisemos ir tão longe para saber que tudo tem a sua hora de começar e acabar. Pode até não ser como e quando gostaríamos, mas se olhássemos para todos os instantes como sendo os últimos, quem sabe não viveríamos com mais prudência, intensidade ou vontade? Por que esperar que a morte bata na nossa porta ou na do nosso vizinho para percebermos o quanto amamos a vida e estamos dispostos a lutar por ela com todas as nossas forças?
Fico aqui pensando no quanto vivemos no improviso, confiando ao tempo as nossas próprias responsabilidades... Se soubéssemos quanto tempo ainda nos resta, talvez, faríamos tudo diferente e cuidaríamos desse tempo com tamanho carinho que não ousaríamos desperdiçar um minuto sequer! Quem sabe ligaríamos mais aos amigos, apenas para ouvir um “oi!”; abraçaríamos todos aqueles que amamos e àqueles que fazem parte de nossa vida; passaríamos mais tempo com nossa família, amaríamos mais... Não cometeríamos tantos deslizes, confiando no tempo para reparar nossas estupidezes. Erraríamos, sim, mas buscando nos erros mais aprendizado do que um simples perdão que conforta a nossa consciência... Não pouparíamos esforços e seríamos mais humildes para buscar o verdadeiro perdão daqueles que magoamos... O tempo corre e muitos de nós o deixamos escorrer pelo ralo...
Pouco sabemos sobre nós mesmos e somente quando somos sacudidos e alertados de que o tempo é implacável com todos, saímos em busca de nossas verdades e olhamos interiormente para essa pessoa que somos... Queremos nos apresentar a ela, ouvir um pouco de sua história e ter momentos nunca antes vividos, como num resgate alucinado... E sempre estiveram ali, ao nosso alcance, mas desperdiçados pela pretensão da imortalidade! Talvez se pudéssemos saber sobre o tempo que nos resta, viveríamos cada dia com mais prazer, aproveitando ao máximo todos os momentos e pessoas que temos em nossa volta!
Estamos todos, de um modo ou outro, doentes e condenados! Nosso fim pode estar mais próximo do que imaginamos, mas ainda temos o dia de hoje para respirar, amar, sorrir, fazer uma gentileza (ou várias!), doar carinho, respeito, atenção... A mesma atenção que a vida pede e nós, irresponsavelmente, deixamos de lado.
Por isso, sentada numa sala de espera de um hospital, pude ver a vida por uma ótica estranha e confusa, mas tão verdadeira que chega a ser assustadora! Acho que todos os rostos que vi não precisavam me contar suas histórias. No fundo eu sei e todos sabem quais são! São as mesmas que as nossas; cheias de problemas e dúvidas, de alegrias e tristezas, saúde ou doença... Certamente não foi o melhor lugar que encontrei para perceber a minha própria vida, mas foi através da vida (e da morte iminente) dos outros que enxerguei o meu próprio tempo. O que eu farei com ele depende apenas de mim, pois ele está, também, acabando; mas enquanto eu o tiver, farei o melhor que puder para que minha permanência seja gloriosa... Como a vida pede!
A morte, nesse momento, para mim, é apenas um sussurro na minha consciência, me despertando para a vida!
Jackie Freitas
“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.”
*Imagens retiradas do Google Imagens

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