O Bastante Nunca Basta

Que somos seres insatisfeitos permanente e constantemente não se discute! Volta e meia caímos nessa reflexão!

Traçamos metas, estabelecemos objetivos na vida, mas sempre estamos em busca de algo mais... O bastante nunca basta! Por um lado é desafiador ultrapassar os limites, testar nossa capacidade, buscar mais conhecimentos e aprendizado; mas, por outro, essa busca pode nos fazer andar em círculos ou até mesmo destruir aquilo que construímos...

Enquanto o nosso copo não transborda, não percebemos que a água que ali havia era suficiente para matar a nossa sede e não é raro enxergarmos que o que tínhamos era valioso e suficiente, somente quando as perdas chegam.

Dias desses estava assistindo um concurso de “novos talentos”. Todos, sem exceção, disseram buscar reconhecimento para poderem viver daquilo que mais amam: a música! Lembrei-me da Amy Winehouse que perdeu a sua vida tão cedo e não pude deixar de pensar que um dia ela sonhou os mesmos sonhos desses aspirantes ao estrelato. Pensar que ela trilhou os degraus da conquista e morreu num degrau qualquer, achando que estava no topo... Será que estamos preparados para chegar tão alto? Por que muitos se perdem quando se deparam com o bastante?

Talvez porque nossa natureza exige algo excepcional, inovador e que ainda não tenha sido provado por qualquer outro mortal. Mesmo que o sabor seja o amargor da insatisfação... Somos mesmo tão descontentes e insatisfeitos assim?

Por via de regra queremos saúde, amor, paz e algum tipo de tranquilidade financeira para suprir nossas necessidades básicas, mas isso tudo é suficiente para aquietar nossas buscas? Não! Uma vez atingida determinada meta, queremos sempre mais porque saboreamos a vitória e a conquista; então aumentamos nossas apostas...

Não quero dizer que esse processo seja ruim, porém me preocupa quando o foco muda para a ganância, quando deixamos de ser exploradores de nossas capacidades para nos tornarmos tão ambiciosos ao ponto de esquecermos as verdadeiras razões de nossas buscas. E a ganância, sem dúvida alguma, quase sempre está revestida pela inocente pele de um sonho...

Talvez, muitos de nós já estejamos num ponto onde as conquistas sejam motivos de orgulho e comemorações, então para que esperar o copo transbordar para se dar conta disso? Para que sofrer perdas e não manter o que já nos supre? Isso não tem a ver com acomodação! É preciso entender que não precisamos fixar nossas buscas nos mesmos pontos, limitando o que deve ser expandido e sobrecarregando o que não pede nada além de reciclagem, renovação ou manutenção.

Chegar ao topo exige determinação, não há duvidas! Mas o grande desafio é saber chegar nele e manter-se fiel à pessoa que somos, pois é ela que nos leva onde queremos chegar. Conservar a essência do sonho puro e verdadeiro nos impulsiona diariamente. Querer sempre mais e de modo descomedido é a arapuca que nossos sonhos nos pregam. Eles gostam de testar nossa fidelidade e ambição! E é nessa encruzilhada que muitos se perdem e tornam seus sonhos em eternas frustrações. Somos tentados o tempo todo pelo excesso!

O suficiente pode ser nosso combustível para a busca de um melhor que não tem a ver com quantidade, mas com a qualidade e aprimoramento daquilo que conquistamos.

Talvez se a Amy mantivesse em sua lembrança a essência dos seus sonhos, ela não teria sucumbido e se tornado vítima de sua própria ganância e insatisfação... Talvez, se esses “novos talentos” não se esquecerem das razões que os levam à luta pelo reconhecimento, sirvam de inspiração e ajudem muitos a compreenderem que o suficiente pode estar no próximo degrau e não necessariamente no topo! O bastante nunca basta somente quando deixamos que a ganância mate os nossos sonhos genuínos...

Enquanto alguns querem o muito, outros querem apenas o suficiente...

Jackie Freitas

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.”

(Mahatma Gandhi)

*Imagens retiradas do Google Imagens